Em um copo de água potável podem estar presentes 27 tipos diferentes de agrotóxicos. Esta é a realidade de 1 em cada 4 municípios brasileiros, localizados em estados como Tocantins, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina, onde o nível de contaminação é bastante elevado, segundo o estudo “Por Trás do Alimento” que foi realizado pelas organizações Agência Pública, Repórter Brasil e Public Eye e divulgado em abril de 2019.
A pesquisa expõe números sobre a contaminação da água por agrotóxicos no Brasil a partir de dados disponibilizadas no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (SISAGUA), de responsabilidade do Ministério da Saúde. O SISAGUA reúne informações enviadas por autarquias estaduais, municipais e empresas de abastecimento sobre os resultados de testes que fazem a medição da presença de 27 agrotóxicos na água que abastece os estados e municípios brasileiros.
Entre os estados que detectaram todos os 27 agrotóxicos na água dos seus municípios estão São Paulo (504), Paraná (326), Santa Catarina (228), Tocantins (121), Mato Grosso do Sul (65), Minas Gerais (50), Mato Grosso (30), Rio de Janeiro (10), Sergipe (15), Rio Grande do Sul (14), Espírito Santo (8). Entretanto, os dados não retratam a realidade brasileira em sua totalidade, pois alguns municípios não enviaram os dados para o Ministério da Saúde.
“A maioria dos agrotóxicos encontrados estão abaixo do limite máximo pela legislação brasileira, mas acima do [limite] da União Europeia. Os limites permitidos no Brasil são extremamente altos e contrastam de forma muito intensa com que é permitido na Europa e em outros países também. A quantidade de agrotóxicos que aceitamos no Brasil e na água brasileira é uma agressão”, afirma Murilo Mendonça, representante da Associação Brasileira de Agroecologia.
Outro dado preocupante apontado por Mendonça é a mistura dessas substâncias na água. Na União Europeia há um esforço para restringir a mistura de substâncias, contudo, no Brasil há apenas limites na quantidade individual de cada produto na água. Mas quando somados todos os produtos, a mistura de substâncias na nossa água pode chegar a 1.353 microgramas, o que equivale a 2.706 vezes o limite europeu!
Para o professor Luiz Fernando Ferraz da Silva, do curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, é impossível evitar completamente a presença dos agrotóxicos no cotidiano. “A fervura da água antes do consumo e a utilização de filtros barram alguns agrotóxicos, mas não eliminam totalmente a presença dos compostos químicos”, conta o professor.
Para o Procurador do Trabalho e Diretor-Geral do Ministério Público do Trabalho, Leomar Daroncho, uma solução possível ao problema da presença de agrotóxicos na água que consumimos é um apoio governamental à utilização de métodos menos agressivos na agricultura e a intensificação da fiscalização do Estado sobre o uso dos defensivos agrícolas.
Para o consumidor final, que recebe essa água na sua casa, só resta cobrar dos nossos representantes mudanças nas políticas de saúde pública e de alimentação da população brasileira, rejeitando a crescente liberação dos agrotóxicos no território nacional.
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