Todos nós bebemos pequenas doses diárias de substâncias químicas e radioativas. São agrotóxicos e outros resíduos da indústria que se misturam aos rios e represas. Alguns especialistas defendem que não há risco se elas estiverem dentro do limite regulamentado. Outros argumentam que as doses aceitas no Brasil são permissivas, pois são bem mais altas que as da União Europeia.
Sobre um ponto não há dúvida: essas substâncias são prejudiciais à saúde quando estão acima do limite brasileiro. O consumo diário aumenta o risco de câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso – a depender do produto.
Estudo mostram que são esses os riscos oferecidos pela água que saiu da torneira de 763 cidades brasileiras entre os anos de 2018 e a 2020. Substâncias químicas e radioativas foram encontradas acima do limite em 1 de cada 4 municípios que fizeram os testes. Entre eles está São Paulo, Florianópolis, Guarulhos e Brasília.
Com impacto silencioso, esses produtos têm dinâmica diferente das contaminações por bactérias, que provocam dor de barriga, diarreia e até surtos de cólera. Os sintomas das substâncias químicas e radioativas podem levar anos, mas, quando aparecem, são na forma de doenças graves.
Estudos que associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde são carimbados pelos mais respeitados órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Há 50 cidades no Brasil com presença de pesticidas nas suas águas encanadas acima do limite. Esses casos também deveriam acender o alerta máximo devido a sua periculosidade: 19 dos pesticidas monitorados nas águas do nosso país são tão perigosos à saúde que foram proibidos na União Europeia. Cinco são “substâncias eternas”, tão resistentes que nunca se degradam.
Apesar do problema, especialistas pedem cuidado para evitar pânico. “Pegar água no poço do vizinho ou comprar água que você não sabe a procedência pode ser pior”, afirma Paulo Barrocas, pesquisador da Fiocruz. A água de garrafa traz ainda o problema do plástico, que também pode liberar substâncias perigosas.
O ideal é evitar a contaminação dos cursos d’água. “No caso dos agrotóxicos, por exemplo, precisamos de rigor na liberação de novos produtos, assim como discutir a proibição da pulverização aérea [por avião]”, afirma Fábio Kummrow, da Unifesp. Agrotóxicos já foram encontrados em poços profundos, lençóis freáticos e até mesmo na água da chuva.
Neste ponto, especialistas falam em coro: não há como se blindar do problema da água no Brasil, ele já afeta ou vai afetar a todos, a única solução passa por políticas públicas.
Fonte: https://reporterbrasil.org.br/2022/03/exclusivo-agua-da-torneira-foi-contaminada-com-produtos-quimicos-e-radioativos-em-763-cidades/
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